quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Corrupção

Cada vez mais percebo como as Vans são ricas em histórias e oportunidades de conversa. Ainda antes da viagem, hoje no fim das aulas, apanhei uma conversa entre uma rapariga e um rapaz da minha turma. Nunca imaginei que a mesma seria o início de várias conversas acerca do mesmo tema. Corrupção.
Entro na Van na zona da frente, onde se senta o condutor e dois passageiros, eu e uma rapariga negra. Prosseguimos o caminho, desta vez bem sentado e com cinto, até que na zona centro da cidade ouço o condutor proferir algumas palavras que não percebi. Tiro os phones dos ouvidos e pergunto-lhe o que se passa... "Teve roubo de mota... e quem rouba mota cá, não tem grana que safe a prisão" olho para a frente, e vejo uma parada de carros de Polícia a revistarem 6 ou 7 motas e seus condutores. Peço explicações e o homem explica-me que no Rio agora está na moda este tipo de roubos. Daí, partimos para uma conversa intercontinental. Fico a saber que a rapariga era Angolana a estudar microbiologia cá e o motorista carioca que comprou a Van e trabalhava todos os dias a guiar pela cidade. No meio da conversa percebo como o homem estava ansioso por partir. Sair do Rio, "Morar, trabalhar, viver tranquilo" como ele dizia. Muito perigoso, todo o dia tem assalto. Contrapus com a seguinte ideia: "Cara, tou sentindo que os visitantes e estrangeiros que vivem cá temporariamente acabam gostanto mais do Rio que os próprios cariocas". Isto porque não sentimos as elevadas cargas fiscais, a corrupção em todos os serviços, policia, governo, no fundo todas as componentes que fazem a cidade funcionar. Lembrei-me do que já vi, motoristas a largar o telefone quando vêm a polícia, a pôr o cinto à pressa com medo da polícia. Não é medo de serem autuados mas sim do dinheiro que terão de desembolsar para se verem livres "deles". Dou por mim, e percebo como a corrupção afecta todo o sistema neste país. Relembro a conversa que ouvi no fim da aula... A Erika, rapariga da minha turma, a perguntar a outro colega se não queria assinar uma petição para alterar uma lei. Alteração essa que visava a interdição de políticos com acusações do ministério público de se candidatar a novos cargos. Neste país tudo se negoceia, sempre se arranja um jeito...Continuo a conversa com argumentações da política em Portugal e como tudo está menos à vista e apesar de tudo com menor intensidade. Ouvimos algumas posições angolanas não muito claras, "a jogar à defesa" penso para mim. Mais lamentos cariocas, reformas, impostos, enfim...
Pago os 2,5 reais e agradeço a conversa e mais uma reflexão dentro de uma Van, espaços priveligiados para grandes pensadores contemporâneos. Desta vez, pensamentos em voz alta e com direito a resposta do outro lado.

E como "Gringo" que sou, continuo a defender esta perigosa mas encantadora cidade.

Maravilhosa

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