segunda-feira, 17 de maio de 2010

Noite

A noite é uma perigosa companheira. Por vezes, a única ao nosso lado de madrugada. Por vezes, boémia, por vezes nostálgica e solitária. As ruas estão vazias e soturnas. A escuridão esconde um ou outro, uma ou outra. Numa esquina, num táxi, num boteco. Nunca é superficial. Por vezes profundamente triste, por vezes um mar de alegria. Mas é na noite que me conheço, que me descubro, que me deixo levar pela sua profundidade e mergulho em mim mesmo. Ao mais desconhecido eu. Àquele que ninguém conhece. Ou quase ninguém. São reflexões mundanas que se misturam na essência do ser, do mundo, das ruas. Ponho-me à prova e nem sempre me sinto capaz... Um filme em que a personagem principal, talvez a única, é o meu alter ego, a personificação da minha noite, talvez só do meu momento. Viajo, perco-me, volto. A mim, à rua, ao quarto. E não deixo nenhuma emoção de lado, felizmente porque conheço todas as formas e estados, mas infelizmente porque cada uma me explora e invade. Da mesma forma que, quando se revela gritante e feliz, me deixo levar superficialmente pelos contornos do céu estrelado e das ondas invisíveis do mar de escuridão. A noite por si só não é companhia para todos. Nem todos a percebem. Os que a reparam, olham-na de lado ou simplesmente fecham os olhos para só ver o dia e não a sentirem no seu encalço. Inspira-nos, entristece-nos, e depois compensa com momentos subtis e pormenores que durante o dia não se sentem. Imagino outras personagens, outros mundos. Os outros que nada disto sentem. Os que não se podem dar ao luxo de assim pensar. Porque simplesmente as circunstâncias não lhes permitem. E acabam por sentir de outra forma, não chegam à noite sequer, porque têm fome. De saber, de conhecer, de aprender mas ninguém lhes deu esse direito, e os poucos que lhes sobravam também foram retirados. Será para mim um privilégio? Será que não devia assim pensar? Sinto-me egoísta mas com sede de saber porquê. Chego a casa e bebo água para não desidratar do vazio, que em mim se faz sentir.
Tudo isto, num ônibus, numa rua, num bairro sujo e desumanizado que é Copacabana.
É a realidade de uma noite. A de amanhã será diferente.

O que não me mata, fortalece-me.

1 comentário:

  1. Olá!
    Espero que estejas a aproveitar em tudo. Continua com a s tuas reflecções e escritos que te estás a sair muito bem e muito bem mesmo. Parabens e at+e breve. Beijos da tia minela

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