20.04.2010 12h trajecto Fundão - São Cristovão
"Não há nada melhor que sentir que a cidade está connosco, que nos é íntima. As passadas na rua revelam sorrisos amigáveis, os minutos no ônibus desvendam quadros únicos e o Rio suspira... a cada esquina, a cada "moço vendendo bala". Desloco-me sem medo, com a confiança de quem está seguro por alguém, pela cidade. Permite-me, aceita-me e deixa-me à vontade para o conhecimento e exploração sem limites. Mesmo os trajectos mais rotineiros conseguem surpreender. A escravidão da pobreza vai-se sentido por Copacabana até à Princesa Isabel, ironicamente a avenida que ganhou o nome da princesa imperial que aboliu a escravidão. Mais à frente, o despique entre o Pão-de-Açucar e o Cristo Redentor. Contorno a Baía de Botafogo e tenho tempo para ver como se emergem e insinuam estes dois símbolos e sua presunçosa troca de olhares. A água reflecte o sol brilhante que ilumina o verde e a respiração da cidade. Toda a marginal, Flamengo, Glória, até à praça XV é fonte de inspiração para um dia de trabalho. Desporto e harmonia e uma zona bem preservada em contraste com o que a seguir me espera. Avenida Presidente Vargas, centro. O equivalente aos Aliados mas muito menos bonito, com mais ônibus e muitos buracos… O comércio e os escritórios inundam o centro da cidade e as pessoas trabalham para viver. Seja de fato e gravata, seja a fazer discursos pouco originais para tentar vender rebuçados e amendoins nos transportes públicos. A cidade sufoca e grita de dor ao ver tanto e tão pouco. Confessa-me suas intenções e apresenta-me finalmente a São Cristovão. Ao chegar ao trabalho percebo, uma vez mais, a minha afortunada sorte.
Sorte por ter uma boa relação com a cidade, mas sobretudo com a vida.”
Boas maneiras
Há 12 anos